04 novembro, 2008

Uma cabeça que cai

Lá estava ela voltando pra casa, depois daquele dia enfadonho, daquelas aulas chatas e medíocres. O estômago não lhe deixava pensar com clareza, mas mesmo assim sua mente divagava, enquanto o ônibus sacolejava naquela via esburacada. Seus pensamentos perderam-se. Tanto que ela sequer notou que o garoto que estava sentado ao seu lado dormira, ignorando a existência de qualquer outro ser que não fosse ele. Ela não se perturbaria com aquela situação. Afinal que mal faria um jovem dormindo ao seu lado? Ela não se importava de maneira alguma. Estava mais concentrada em quando chegaria em casa para se livrar daquela roupa que agora a sufocava diante do calor insuportável que fazia dentro do transporte.

Ela imaginava o que a mãe teria feito para o jantar, já que ela havia passado o dia todo fora, e sequer havia almoçado em casa, sendo totalmente obrigada a comer qualquer coisa, para não ter que digerir aquela comida horrenda do restaurante comum. Foi então que ela se sentiu incomodada com algo. Ela não sabia bem o que era, mas sentia que algo se aproximava. E olhando de relance para o lado, ela viu a cabeça de seu companheiro de viagem pendendo para seu lado, e quase tocando seu ombro. Ela encolheu-se, todavia de uma forma bem sorrateira para não acordar O Feio Adormecido. Bom, pelo menos não era um daqueles 'tios' suados e cheirando a graxa. Não. Era um rapaz, devia ter sua idade... Mas nesse momento ela estava preocupada demais com a possibilidade de ter um completo estranho dormindo apoiado em seu ombro. Era meio que inconcebível.

Virou um jogo de cabeça cai, ombro encolhe. Ela definitivamente não o deixaria cair sobre seu ombro, mas tampouco o acordaria de seu sono profundo. A situação era crítica: o ônibus parecia mexer-se mais do que o normal. Ela não estava suportando mais aquilo. Pelo canto dos olhos ela vira que ele já estava praticamente babando. Ela não poderia suportar a idéia de aquele estranho babar... Uh, era nojento demais. Ela não conseguia mais conter-se na cadeira. Quando num movimento mais brusco que o ônibus fez ele acordou, de sopetão. Deu um pequeno pulo no assento. Piscou várias vezes, olhou para os lados, e concertou-se na cadeira que o acomodava. Ele percebeu que algo muito esquisito havia acontecido, e ele temia que tivesse cometido alguma gafe. Mas a sonolência que o ruído constante, e o sacolejo incansável que os ônibus proporcionam, não o deixara ficar acordado.

Eles meio que se entreolharam pelos cantos dos olhos. A vergonha não os deixaria encarar-se de fato. Ela desceu no ponto seguinte. Ele ficou ali pensando no que teria feito. Refletiu tanto que acabou por adormecer novamente.

Garotas infames riam logo mais a frente, da cena que se desenvolvera. Elas sabiam muito bem de tudo que se passara ali, e não hesitariam em contar a história para o maior número de pessoas que conhecessem, e que se interessassem pela tragédia da garota.

1 comentários:

Lorena Dana disse...

Tadinha da guria, né Juh!? Hohohoo! O pior é que já tinha visto aquele cara antes! Um dia ele tava todo suado... acho que é um dos badecos do cepae, ou um veterinário sem rumo XD *estranho*

=***

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