Se tem uma coisa que eu não gosto é de assalto. Bom, acho que ninguém gosta de assalto na verdade. É uma situação extremamente chata e imprevisível. E o pior é que, geralmente, você fica com tanto medo que nem sabe ao certo o que fazer.
Se chora.
Se ri.
Se corre.
Se fica.
Se bate.
Se apanha.
Uma vez ouvi algo muito interessante durante uma pregação. O preletor falava sobre entrega e usou o fato de ter sido assaltado há alguns anos como exemplo. Na época foi meio-que absurdo, já que eu nunca havia sido assaltada. Mas, hoje eu entendo direitinho o que ele quis dizer com tudo aquilo.
Assalto está muito relacionado à vulnerabilidade. Quando um cara armado resolve que vai levar algo que é seu sem a sua permissão, você fica totalmente vulnerável e meio-que à disposição do sujeito. É uma sensação muito estranha.
Já fui assaltada algumas vezes.
A mais traumática delas aconteceu quando eu tinha por volta de 15 anos. Naquela noite eu fui dormir na casa de uma amiga. Outros amigos nossos também iriam para lá, assistir filme e conversar um pouco. Em meio às risadas, durante o trailer do filme que havíamos escolhido, três homens com máscaras de palhaço irromperam pela sala anunciando o assalto.
Talvez devido ao clima descontraído em que nos encontrávamos, nem percebemos que o assunto era sério até que um dos queridos resolveu que precisava dar um coronhada na cabeça de um dos rapazes. O sequestro assalto demorou cerca de 1h30, com direito à lanche para os convidados e muita porrada violência.
A palavra que melhor define tudo o que aconteceu é tenso.
Foi tudo tão cinematográfico que, depois que a quadrilha foi embora, deixando-nos todos amarrados e amordaçados, disparei a rir. Não porque eu ache sexy ser amarrada ou amordaçada. Sinceramente, não gosto da sensação de ser tratada como um porco. Na verdade tem mais a ver com reações a momentos de tensão. Já a mãe da minha antiga amiga não achou tanta graça quanto eu.
Talvez por causa da sombra roxa que eles deixaram no olho dela.
Ou talvez porque a polícia demorou um bom tempo para chegar ao local.
Ou talvez porque a quadrilha tenham depenado a casa toda.
Ou talvez porque os assaltantes nos tenham mantido com a cara, literalmente, no chão por mais de uma hora sob ameaças de morte que, realmente, pareciam bem sérias.
Não sei.
Só sei que a minha crise de riso não foi solitária.
Algumas das meninas também riram bastante.
As outras experiências não foram tão incisivas quanto essa, mas em todas me senti da mesma forma: violada. É horrível sentir que alguém, além de você (e se, como eu, você acredita em Deus) e Deus, tem poder de escolha sobre sua vida.
Outro dia uma amiga me contou que foi assaltada. Levaram a bolsa dela em uma panificadora. Ela ainda nem havia feito o pedido. Tudo estava dentro daquela bolsa. [...] Também já tive meus documentos roubados. Além de tudo, ainda causa o maior transtorno para regularizar tudo depois. Coisas como frequentar delegacias e enfrentar filas para "retirar" a 2ª via dos documentos. Não é nada agradável mesmo.
E aí é nesse momento que você entende o real significado de se entregar. De se sentir impotente. De se tornar vulnerável.
-beijoscomentem;*