Sempre gostei da idéia de se fazer adaptações de livros para o cinema. Pra mim é como unir o útil ao agradável. Não que eu já tenha lido/visto muitos, mas a idéia disso me agrada bastante. Entretanto, muitos filmes me contradizem, quando essas adaptações que poderiam ser tão boas, são feitas de maneira relaxada pouco semelhante a obra original. O primeiro caso comprovado e super-frustrante desse tipo de prática pra mim foi a saga Twilight. Ok! Pode ser coisa de louca viciada em livros, mas honestamente, nada naqueles filmes me estimula, o que é bem diferente do que acontece com a saga original. Neste sentido, e já esperando o pior, como anunciei no último post, assisti a O menino do pijama listrado, adaptação do romance de mesmo título de John Boyne.
[ATENÇÃO! CONTÉM SPOILERS NOS PRÓXIMOS TRÊS PARÁGRAFOS!]
Eu, definitivamente, amei o livro. Apesar do final ser muito repentino e, com isso, dar ao leitor a sensação de desamparo, é muito interessante acompanhar momentos tão horríveis da visão de um menino de oito anos. A história é a seguinte, tanto no livro quanto no filme, Bruno, um garoto de oito anos e filho de um comandante do exército nazista na 2ª Guerra Mundial, se vê obrigado a se mudar quando seu pai é transferido para o controle da base de um campo de concentração. Mas, ele não sabe disso. Só entende que vai deixar seus "três melhores amigos para a vida toda", sua casa grande, espaçosa e cheia de lugares a serem explorados, e seus avós, ou seja, sua vida em Berlim.
Chegando à casa, muito insatisfeito por sinal, ele descobre uma tal "fazenda" da janela de seu quarto, onde existem pessoas que ficam de pijamas o dia todo e há muitas crianças com as quais ele até poderia brincar, se não houvesse a cerca. Um dia, ele resolve explorar, seu passatempo preferido, e começa a caminhar ao lado da cerca. Por um bom tempo, Bruno caminha sem nada avistar, mas logo ele vê uma mancha que, aos poucos toma a forma de um menino. O nosso protagonista, então, conhece Shmuel (origem hebraica, Samuel), O menino do pijama listrado, um garoto que extraordinariamente tem a mesma idade e ainda que havia nascido no mesmo dia em que Bruno. Dali em diante, os dois garotos desenvolvem laços fraternos de amizade, apesar de sempre estarem separados pela cerca.
Um dia, porém, um ano depois que a família chegou ao campo, surge a notícia: Bruno, sua irmã e mãe vão voltar a antiga casa. Bruno não fica contente com a notícia, já que ele já havia se acostumado a viver ali, apesar de todos os problemas, e estava feliz com seu amigo Shmuel. Ele avisa o amigo e como última aventura dos dois, fica decidido que Bruno vai atravessar a cerca em um ponto em que esta estava mal fixada. Tudo isso acontece debaixo de muita chuva e perigo. Bruno passa para o outro lado da cerca um dia antes da viagem e nunca mais retorna de lá. A recuperação dos pais, que só descobrem seu desaparecimento horas mais tarde, demora muito tempo. O que, no livro, é retratado em um epílogo.
[ATENÇÃO! ACABARAM-SE OS SPOILERS!]
A base do filme é a mesma do livro. Mas, como em toda adaptação faltou muita coisa. Também, era de se esperar que menos de 1h30 de duração não pudessem mostrar tudo o que Boyne conta através dos olhos de Bruno. O filme é bom. Recomendo. Mas, para aqueles que tiveram o prazer de ler o livro, vejam com a certeza de que vão assistir a um filme de que somente lembra um livro já lido. Não que se distancie tanto. Mas, ao que parece, tantas modificações da história precisaram ser feitas, que suas semelhanças tornaram-se bastante limitadas.
Outro grande problema do filme, é o que previ no post anterior: a narrativa cinematográfica faz a história perder o encanto do desconhecido, tornando tudo claro ao espectador, desde o campo de concentração, às frustrações da mãe, à mudança da irmã, entre outros detalhes que, sob a visão do narrador-Bruno na obra original, se tornam elementos misteriosos e trazem a dúvida ao leitor. Resumindo, no filme tudo é explícito, explicado e retomado o tempo todo. A típica estruturazinha que já conhecemos de tantos filmes.
Se acho que o filme poderia ser uma adaptação melhor? Sem sombra de dúvidas. Talvez *olha a palpiteira* se o diretor tivesse recorrido a um narrador em 1ª pessoa, no caso Bruno, pode ser que o ar de mistério prevalecesse ou, pelo menos, o espectador saberia que o garoto não estava entendendo nada do que acontecia ali e não, como transparece a quem assiste, o garoto é um tolo por não perceber o que está acontecendo embaixo de seu nariz.
Bom é isso, mas vale a pena assistir e ler não necessariamente nesta ordem. Só não esperem ver adaptação, no sentido mais puro da palavra, porque pra mim é uma versão bem diferente da original. E é tão melodramático que, confesso, me fez chorar.
-beijoslistrados;*